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Visita ao café
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Frutas maduras do arabica







Cafeeiro com frutos maduros


O fruto do café

Após a floração, a maturação da cereja do café arábica leva de 6 a 8 meses nessa região. Os frutos do café arábica são alongados e maiores que os do robusta; além disso, são bem mais sensíveis a mudanças climáticas, pragas e doenças do que as cerejas do robusta. O fruto maduro tem a pele externa vermelha ou amarelo-avermelhada – dependendo da espécie. Sob esta pele está a parte macia, branca e adocicada do fruto, a polpa. 


Fruto aberto do café verde com duas sementes



Normalmente, os frutos têm duas sementes: Os futuros grãos de café. Cada grão está protegido por uma película prateada fina, mas resistente, e ambas as sementes são, por sua vez, revestidas individualmente por outra película fina e bege chamada pergaminho.

O microclima predominante nessa região, com temperaturas amenas entre 18ºC e 20ºC, permite que as variedades do arábica produzam café de alta qualidade com paladar encorpado. Esse café se caracteriza por um sabor adocicado, aroma frutuoso e leve acidez. 









Frutas maduras do arabica












A colheita

Quando este café saboroso chega à idade madura, em abril / maio, começa a época da colheita de café que vai até aproximadamente agosto, pois as cerejas de café não amadurecem todas ao mesmo tempo e a mão de obra é limitada. O cafeicultor Paulo Marcio precisa, portanto, decidir qual é o melhor momento para começar com a colheita e quais os métodos a serem usados.

Paulo Marcio me explica os métodos de colheita dentre os quais ele pode escolher. A escolha, segundo ele, depende da idade dos pés de café, do tipo de plantação e da inclinação do terreno, “e naturalmente, também da disponibilidade de uma colheitadeira, pois essa eu preciso pedir emprestada”.

As alternativas são as seguintes:   
  • Colheita manual: Nesta, por uma questão de tempo e de custos, ele opta pelo método por derriça, em vez da colheita seletiva.

  • Colheita semimecanizada: Paulo tem uma pequena colheitadeira tracionada por trator. Mas ele não gosta de usá-la, porque é meio complicada de ser manuseada.

  • Colheita mecanizada: Numa parte dos seus cafezais ele faz a colheita com uma colheitadeira grande, que ele empresta da cooperativa Cooparaíso, onde é associado.


Na minha primeira visita ao cafezal, espero sentir aquele delicioso cheirinho de café – em vão! Os operários correm os galhos com as mãos hábeis, arrancando as cerejas de café dos cafeeiros que são da altura de uma pessoa – aha! Método por derriça – penso, mas o cheiro está mais para frutuoso-seco, meio terra, azedo; nem sinal daquele perfume de café recém-coado! Este só é liberado quando o grão seco é aquecido na torrefação.

A colheita de café não tem nada de romântico, como muitas vezes sugere a propaganda. É um trabalho físico pesado, principalmente mais no final da época de estiagem, muito poeirenta, em agosto. Mas o café proporciona trabalho para muitas pessoas na região, que se caracteriza pela alta taxa de emprego.





Paulo Marcio Villela

O cafeicultor Paulo Marcio Villela, numa das suas passagens diárias
de controle pelo cafezal com o seu antiquíssimo jipe da Willys. 
Ele verifica o estado das plantações e o desenvolvimento da
maturação de cada lavoura. 





O volume da safra varia consideravelmente de um ano para outro: A cada dois anos, mais ou menos, os cafeeiros produzem muitos frutos e, então, geram uma safra farta – depois disso, os pés de café precisam desse período para se recuperarem. “Chamamos isso de produção cíclica”, comenta Paulo. Assim, o rendimento de um pé pode variar entre 800 e 2.000 gr durante uma safra. “Em termos de trabalho, isso significa que um operador precisa colher 2.5 kg de cerejas de café para que se obtenha 500 gr de grãos de café cru.

No ponto ideal de maturação, as cerejas de café apresentam a cor vermelho-escura; frutos imaturos são verdes e os supermaduros ficam pretos. Uma regra básica do método por derriça é começar a colheita somente quando houver, no máximo, 20% de frutos verdes, imaturos, no pé.

“Por isso, o nosso café é composto por 55% de cerejas maduras, 25% de frutos que secaram no pé e 15% de frutos verdes, semimaduros. Os 5% restantes são coquinhos* ou casquinhas*: São frutos que caem no chão e são varridos com rastelos. Naturalmente, é preciso fazer uma seleção depois da colheita com este método, pois, do contrário não se consegue café de boa qualidade”, explica Paulo.


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* veja tabela abaixo












                   Américo na colheita no final da safra. Devido à
              estiagem, este trabalho se torna bem poeirento.
          













Colheita mecanizada: Com o trator no cafezal

Colheita mecanizada: Com o trator no cafezal.












Die Manuelle Kaffee-Ernte

Colheita manual com peneira
























Colheita manual

Lézio na sua primeira tarefa matinal. Ele enumera os sacos, para que mais tarde, quando o café é transportado para outro lugar, se possa identificar e registrar quais cada trabalhador colheu: O pagamento é feito de acordo com o volume colhido.






Enrique conta com orgulho que “já tem 71 anos de idade!” Para alguém dessa
idade, ele está em boa forma e fuma muito, sempre cigarros feitos à mão.
Como todos os outros da Fazenda Boa Vista, ele colhe pelo método chamado
derriça, que consiste em correr o galho inteiro com as mãos tirando todos os
frutos – independentemente do seu grau de maturação. Misturados com folhas,
galhos e ramos, os frutos caem numa lona que ele estendeu previamente no
chão sob o pé de café.





Antes de Marinilda ensacar as cerejas de café colhidas, ela tira as folhas e os ramos. Para tal, usa uma peneira com a qual joga os grãos para o alto e os capta novamente. Neste movimento o vento ajuda a separar os ramos e as folhas – é o que se chama de abanação. Marinilda é, com destaque, ‘a melhor’ da equipe: Quando o trabalho flui bem, ela consegue encher até 12 sacos por dia. Alguns colegas trabalham mais devagar e colhem apenas cinco sacos por dia. Ela possui a maior lona de todos e a estende com perfeição sob os pés de café, trabalhando o dia inteiro com máxima concentração.

“Neste ano, precisamos colher aproximadamente 130 pés de café para encher uma saca de 60 kg de café cru. Temos 180.000 pés de café na fazenda. Agora, você pode fazer a conta”, Paulo fala prá mim rindo.

As redes com o café não são muito pesadas, mas, considerando-se que é uma atividade praticada durante o dia todo, torna-se bastante cansativa.
  
 





Em junho, já começa o inverno nesta região e pela manhã sempre
é úmido e relativamente fresco; daí já é preciso usar blusão.






A fazenda Boa Vista tem um ônibus próprio que busca os trabalhadores pela manhã no vilarejo e os traz até a fazenda e, à noite, os leva de volta para casa. Normalmente, os trabalhadores procuram um lugar à sombra, no campo, para almoçar – só quando chove, então, almoçam dentro do próprio ônibus.

Mais para o fim da safra, fazem a arruação com os rastelos sob os pés de café e conseguem juntar mais uma boa quantidade de grãos de café caídos no chão.









Termos brasileiros para os diferentes graus de maturidade
dos frutos de café
  
  • Chumbinhos: São os frutos de café verdes ainda imaturos 
  • Verdolengos: São os frutos de café semimaduros, com pele amarela ('epicarpo amarelado' ou  'verdoengos') 
  • Cerejas: São os frutos de café maduros, com o típico epicarpo vermelho: A cereja de café
  • Passas: São os frutos pretos, que passaram do ponto ideal de maturação, mas ainda não estão completamente secos: As “passas” 
  • Bóias: São os frutos pretos e secos que bóiam na superfície no tanque d’água: As “bóias” 

As bóias são subdivididas em dois tipos: 

    • - Coquinhos: São frutos que secaram no pé ou no chão e 
    • - Casquinhas: São frutos que foram descascados durante a colheita ou quando caídos no chão. 








Abanar o café













O método seletivo (Picking Method) 

No método de colheita seletiva, são colhidas somente as cerejas de café maduras, uma a uma. Paulo não usa esse método, pois simplesmente não tem condições para tal.

Esse método de colheita tem vários nomes: também é chamado de catação, colheita a dedo ou colheita no cesto. É realizada em intervalos de várias semanas, de acordo com o amadurecimento das cerejas de café. Normalmente, este processo de colheita é aplicado em países com mão de obra mais barata do que no Brasil e que produzem “cafés especiais” ou “café lavado” (ingl. 'washed coffee').

Mas também no Brasil, um número crescente de cafeicultores está começando a produzir cafés especiais com este método ou está, ao menos, fazendo testes em plantações menores (microlotes).

 





Colheita semi-mecanizada

A colheita também pode ser feita com apoio parcial de máquinas. Devido à dificuldade de conseguir recrutar mão-de-obra e aos custos adicionais de salários e encargos na temporada da colheita, os cafeicultores procuram, cada vez mais, por alternativas mais baratas e mais simples.

Mesmo quando as condições geográficas do terreno não permitem a colheita totalmente mecanizada, é possível fazer a colheita parcialmente mecanizada para acelerar o processo, sem prejudicar a qualidade do café, me explica Paulo.

Um exemplo típico de equipamento auxiliar na colheita semimecanizada é a máquina de abanação do pé, puxada por um trator. Os frutos caídos na lona são coletados e processados em seguida, como no método manual.  































Colheita mecanizada

No Brasil, o método de colheita mais comum ainda é o método manual, mas gradualmente vem aumentando o percentual da colheita mecanizada. Para os cafeicultores de grande porte ela é, cada vez mais, uma questão de sobrevivência, devido ao preço relativamente baixo do café.

Mesmo pequenos cafeicultores procuram agilizar o seu trabalho, aumentando o uso de equipamentos na colheita. Os requisitos para a colheita mecanizada são plantações devidamente cultivadas: A distância entre as fileiras de cafeeiros deve ser de 3 metros, para que as máquinas possam passar entre elas; o terreno não deve ser muito inclinado e os pés de café devem ter 5 anos ou mais.

Vistas de frente, as colheitadeiras parecem literalmente engolir os pés de café! No interior da máquina bastões de plástico rígido agitam os galhos com movimentos rápidos, soltando as cerejas de café. A frequência e a força das batidas podem ser ajustadas ao tamanho e à estrutura dos pés de café.

As cerejas que caem são coletadas no fundo da máquina e transportadas para tanques ou para outro recipiente externo – um sistema simples, mas genial! Segundo Paulo, esse tipo de máquina foi criado, originalmente, na Espanha, para a colheita de azeitonas, sendo adaptado no Brasil para a colheita de café.

Para os cafeicultores, a economia de custos através da colheita mecanizada é enorme, pois, segundo estimativas, as máquinas chegam a substituir de 30 a mais de 50 operários.

Fazendas de café de pequeno porte, que não estão em condições de adquirir uma colheitadeira, podem emprestar um equipamento de uma das cooperativas de cafeicultores. A desvantagem é que, frequentemente, o tempo de espera até uma colheitadeira ficar disponível é longo.

Na colheita mecanizada, não é possível selecionar os frutos coletados do pé, ou seja, a qualidade do produto resultante é, inicialmente, equivalente ao da colheita manual por derriça.

A diferença para o processo manual, em via de regra, está na etapa posterior, de beneficiamento: Após a colheita mecanizada, normalmente, são aplicados os processos de benefício por via úmida ou semi-úmida. Mais adiante, serão apresentadas mais informações sobre isso.











Erntemaschine im Feld

Colheitadeira no campo









Fazenda Serrinha, Tambaú

No topo da colheitadeira










Dentro de uma colhedora de café

Dentro de uma colheitadeira










Um pouco de história do café – parte II


O caminho que leva ao canal de água, passa pela antiga “casa grande” construída em estilo colonial, onde o avô de Paulo ainda morava.

 Infelizmente, ela está bastante decaída, mas Paulo quer restaurá-la no estilo original; por um lado, pela tradição familiar, mas também por interesse cultural. Ele próprio mora na cidade de Tambaú, próxima dali.

Em 1830, o Brasil exportou 3,2 milhões de sacas de café de 60 kg. No final do Império, em 1890, esse número já havia aumentado para 51,6 sacas – a participação do Brasil na produção mundial de café aumentou, naquela época, de um terço para quase dois quintos.

Durante décadas, o trabalho braçal nos cafezais foi realizado pelos escravos; alguns eram índios brasileiros capturados, mas a maioria era capturada na África.

Por isso, o movimento pela abolição da escravatura gerou um grande problema econômico e político interno para o Brasil. A “importação” de escravos africanos já começou a ser banida em 1853, com a criação da 'Lei do Ventre Livre' que concedeu a liberdade a todos os escravos nascidos a partir da entrada em vigor da lei.

Em 1885, todos os escravos acima de 60 anos de idade foram declarados livres e em 1888, finalmente, a princesa Isabel, regente, assinou a 'Lei Áurea' que aboliu definitivamente a escravidão.

Durante esse longo período de transição de abolição da escravatura, os agricultores, aqui elegantemente denominados de fazendeiros do café, começaram a substituir os escravos por imigrantes.

Nos últimos anos da escravidão, podia acontecer que numa mesma fazenda escravos e imigrantes trabalhavam lado a lado.

Só entre 1872 e 1940, aproximadamente 5 milhões de imigrantes se assentaram no Brasil, a maioria europeus: Portugueses, italianos, espanhóis e alemães, bem como muitos japoneses entraram no país.









































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© Copyright fotografias e texto: Jochen Weber

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